terça-feira, 25 de outubro de 2011

A vida e as estações






Eu queria que a vida fosse
dividida em quatro estágios,
mas que não acabasse nunca.
A infância é como a primavera.

É pura novidade e um calor que
não sufoca, nem faz pensar
bobagens.
Têm uma inocência clássica, e
trás no íntimo a certeza de que
pela frente vem coisa boa.

A adolescência é como o verão.
Quente, petulante, libidinosa.
Parece que não vai haver tempo
para fazer tudo o que se quer e
o que se teme.

É musical e fotogênico.
Dúvidas, dúvidas, dúvidas em
frente ao mar.
Mergulha-se no profundo e no
raso. Pouca roupa, pouca bobagem.
Curiosidade. Vontade que dura para
sempre, certeza que passa.

A maturidade é como o outono.
Um longo e instável outono, que
alterna dias quentes e frios.
Que nos emociona e nos gripa.
Há mais beleza e, o ar é mais
seco, porém é, quando se colhem
os melhores abraços.

Ficar sozinho passa a não ser tão
aterrorizante. Fugimos para a
praia, fugimos para a serra...
Não é preciso consultar pai
nem mãe antes de errar.
É o outono que tentamos
conservar.

O inverno é como a velhice.
Tem sua beleza igualmente,
exige lã, bolsa de água quente...
O inverno é frio como despedida
de um grande amor.
Mas sabemos que tudo voltará
a ser ameno...
O inverno é branco, é prata.
É grisalho.

E, de repente também passa.
Eu queria que tudo fosse verdade,
que a vida fosse assim dividida em
quatro estágios que mais parecem
estações do ano...
Que depois do inverno viesse outra
primavera, e outro verão, e outro
outono...
Eu queria, eu queria!

Martha Medeiros

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